sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Suíte da briga no Bob's


A briga do Bob's abre espaço para explicar um termo muito usado pelos jornalistas, a "suíte". Na definição da Folha:

suíte - Do francês suite, isto é, série, sequência. Em jornalismo, designa a reportagem que explora os desdobramentos de um fato que foi notícia na edição anterior. Na Folha, toda suíte deve rememorar os fatos anteriormente divulgados. Veja contextualizar.

A briga da lanchonte (post anterior), por exemplo, ganhou uma suíte, com direito a chamada de capa (para azar dos assessores de imprensa do TRF e do Bob's).



Como um fato corriqueiro vira crise de mídia

Por um sanduiche errado (deve custar uns R$ 6,00), um servidor do Tribunal Regional Federal (TRF) brigou com um funcionário do Bob's. Para azar de ambos, havia um cinegrafista que filmou a confusão e foi parar no SPTV.

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL853984-5605,00-HOMEM+QUE+BRIGOU+EM+LANCHONETE+DE+SP+DIZ+QUE+FOI+AGREDIDO+ANTES.html

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Jornalista relata pânico de entrevistar famosos

O livro é interessante, e a Folha divulgou um trecho muito bom no site

http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u434843.shtml

LIVRARIA: Repórter conta como controlou o pânico ao entrevistar Madonna

da Folha Online

Reprodução
Livro conta aventuras de uma repórter da "Rolling Stones" entre as celebridades
Repórter americana abre o jogo sobre os bastidores de seus encontros com famosos

A repórter americana Jancee Dunn aprendeu lições importantes sobre como controlar o pânico diante de pessoas famosas no dia em que entrevistou Madonna.

Correspondente da revista norte-americana "Rolling Stone", a jornalista narra os bastidores de seus encontros com celebridades no livro "Chega de Falar de Mim...", da Panda Books, disponível na Livraria da Folha.

Leia abaixo o relato da repórter sobre seu encontro com Madonna.

Confira outros títulos da Panda Books no catálogo da Livraria da Folha.

*

Como controlar o pânico ao entrevistar alguém absurdamente famoso

Entrei no saguão, que tinha uma foto imensa dos olhos da Madonna na parede. Todos os homens no escritório estavam na última moda; as mulheres nem tanto. O recepcionista me pediu para sentar. Na minha cabeça, eu repassava as perguntas que tinha memorizado. Se você fica consultando uma lista de perguntas, acaba por quebrar o ritmo, e a conversa perde a naturalidade. A gente deseja ao menos criar a ilusão de que a entrevista é um bate-papo descontraído entre dois amigos.

Apesar disso, eu tinha de me lembrar que começaria a entrevista com perguntas sobre seu disco. Sempre, sempre formule as perguntas considerando os projetos do entrevistado, que são a razão pela qual ele está dando a entrevista. Se as perguntas não são apresentadas aberta e honestamente, o entrevistado ficará visivelmente irritado.

Uma secretária rompeu meu transe.

- Ooooooiiiii - disse ela. - A Madonna está pronta para atendê-la.

Perdi o fôlego, mas a segui pelo corredor, furtivamente secando as mãos nas mangas. Se pelo menos eu estivesse nos anos 1950 e pudesse usar luvas...O que foi que o editor me disse? Nada de papo-furado. Vá direto ao ponto. Dá para entender. Por que se preocupar com o blablablá? Nós duas tínhamos mais o que fazer.

Entramos no escritório, e - ai, meu Deus! - lá estava ela. Provavelmente eu já vira aquele rosto mais vezes do que o meu. Ela fareja o medo! Como um cão, fareja o medo! Cão! Medo! Farejando o medo! Corra, corra, corra! Apertei a mão dela e a olhei nos olhos. Naquele ponto, estava tão aterrorizada que meu organismo inverteu suas inclinações naturais e minhas mãos ficaram absolutamente secas.

- Olá - disse-me ela. Cordial, mas totalmente profissional. Como sempre ocorre com todos os famosos, à exceção de Clint Eastwood e Uma Thurman, achei-a menor pessoalmente: menos de um metro e sessenta. E, à época, grávida do pequeno Rocco. Era estranho vê-la com aquele barrigão, pois, embora fosse uma das mulheres mais fotografadas do mundo, quase não existiam fotos dela grávida, e com certeza esse fato não se tratava de coincidência. Bem, se ela não se parecia com a imagem que eu tinha dela, quase podia fingir que falava com outra pessoa. Isso aquietou meu desespero interior, de alguma maneira.

Hora de mostrar que eu não estava com medo. Tomar fôlego.

- Acabei de ler uma entrevista em que você reclama de ter espinhas depois de adulta - disse eu, rastreando o rosto dela.

- Qualé?! Você diz isso só para fazer a gente se sentir melhor.

Ousado, ou mesmo exagerado! Percebi um leve sorriso. Bom. Então, me aprumei para lançar a pergunta "te peguei": me lembrava de que anos atrás ela queria indicar como roteiro de um filme o livro The Passion, de Jeanette Winterston, que eu também tinha adorado. Que fim essa história tinha tido? Assim que eu fiz a pergunta, ela ganhou vida, me dizendo que escrevera uma carta à autora, mas que nunca obtivera resposta, o que a deixara muito decepcionada. Só então emendei as perguntas sobre o novo álbum, à medida que ela, lenta e cuidadosamente, se acomodava na cadeira.

Eu a estava achando estranhamente vulnerável, e um pouco menos assustadora do que seria na época do livro Sex. Em determinado momento, uma seqüência maluca de todos os vídeos, filmes e eventos da vida dela percorreram espontaneamente minha mente num flash - lembra aquele clip em que ela era ruiva? Qual era mesmo? "Fever", certo! -, e, com um esforço hercúleo, fui me livrando das imagens. Lá se foram mais quatro perguntas. Bom. Bom. Aí, aconteceu: enquanto ela falava, percebi que não conseguia me lembrar da próxima pergunta. Minhas anotações estavam no carro, e quando ela acabou de falar sobre como sua busca espiritual havia influenciado o álbum, estávamos prestes a ficar olhando uma para a outra no mais horripilante silêncio.

"Vai com calma", disse a mim mesma. "Solte umas perguntinhas leves que geralmente você guarda para emergências, quando os entrevistados não param mais de olhar para o relógio." Em geral, se for a primeira vez que as celebridades ouvem tais perguntas, elas gostam de respondê-las, e você consegue evitar a indesejável resposta ensaiada. Ninguém quer responder pela milionésima vez sobre suas influências musicais, ou sobre como o álbum mais novo difere do anterior. Em vez disso: No que você pensa antes de adormecer? Quando você passou a ver seus pais de outra maneira? Que cheiro o faz voltar à infância? O que seus amigos fazem para irritá-lo? Quando foi a última vez que você se sentiu realmente contente?

Eu lancei uma das boas (Qual foi seu pior trabalho na época do colégio?) para ganhar algum tempo até que a outra pergunta voltasse à minha mente. Ela respondeu sem pestanejar que era fazer faxina, que era nojento, tinha de limpar privadas dos garotos que freqüentavam a mesma escola que ela. A partir daí fui levando a entrevista com mais algumas perguntas sobre o álbum. Quando o fim da entrevista começava a despontar, tentei provocar com uma das velhas perguntas que eu e todas as minhas amigas sempre quisemos fazer: Qual foi o último filme que você alugou? (Na época, tinha sido o último filme da série Sexta-Feira, de Ice Cube, porque era a vez de Guy, o marido, escolher.) Você cozinha em casa? Não, mas ajudava Guy, acrescentando "acessórios" nas saladas.

- Acessórios? - pergunto, espantada. - De que tipo, cinto e luvas? - Olha, a Madonna está rindo!

Mudamos o assunto para a gravidez. Ela disse, consternada, que o médico lhe proibira de fazer ginástica, e que não poderia sair, ou usar roupas legais, ou dançar, e ela se sentia uma "vaca domesticada". Eu acenei com a cabeça, demonstrando minha solidariedade, fingindo ser a amiga e confidente, como ela fizera com Sandra Bernhard, em Na Cama com Madonna, quando a atriz dissera que não havia mais ninguém para sair com ela, porque já tinha saído com todo mundo. Inclinei-me e lhe perguntei algo que sempre tive curiosidade de saber: Alguma vez na vida ela já havia se sentido insegura? Ela raramente expressava qualquer tipo de vulnerabilidade.

- Eu me sinto insegura a cada cinco minutos - disparou. - Do que você está falando? - Ela confessou que, na situação de gravidez em que se encontrava, entrava em pânico apenas ao olhar para o espelho.

Eu pressionei, porque queria saber como ela se sentia antes de estar grávida. Digamos, quando encontrava uma foto de uma ex do namorado. Ela fazia comentários maldosos? Ela respondeu que passava por todo um processo:

- Primeiro, eu digo: "Nossa, ela é magra e bonita" - riu. - Em seguida, penso: "Ah, mas eu sou eu".

Que Deus a proteja! Houve uma leve batida na porta. Era a relações-públicas. Eu me lembrei de que havia algo mais que tinha de fazer. Minha amiga Susan, que trabalhava com decoração, tinha me pedido um relatório completo sobre o banheiro da Madonna. Eu não podia decepcioná-la. Além disso, também queria saber como era lá dentro. Dei uma olhada ao redor. Nenhum banheiro. Devia ficar do lado de fora. Outra batida na porta. Era minha deixa.

- Muitíssimo obrigada - respondi, juntando minhas coisas rapidamente e retribuindo o aperto de mão firme da estrela. Seja breve, sorria, não fique tagarelando. E nada de fotos ou autógrafos - você nunca deve pedir essas coisas como cortesia profissional. Pelo menos finja que estão no mesmo nível.

- Posso usar a toalete? - perguntei à assistente, apontando para a porta perto do escritório, onde se lia "WC". Entrei como um furacão e abri a torneira, enquanto fazia um inventário do local. Um vidro de perfume Fracas, anotado. Um tipo de spray facial que você compra na loja de produtos naturais, água com essência de gerânio, da Tree of Life. Algum tipo de leitura? O Livro de Bolso do Hipocondríaco. Huummmm. Interessante. Loção facial La Mer. Anotado, anotado e anotado.

A assistente me esperava para me acompanhar até a recepção.

Caminhei a passos largos, triunfante.

- O que você achou? Ela não é o máximo? - a assistente perguntou.

- O que você achou dela? - perguntou o recepcionista. - Totalmente demais, não é?

- É mesmo - respondi, tentando, sem conseguir, não parecer uma fã inveterada. - Ela é divertida, mas tem um lado doce, também. E não deu respostas programadas, realmente pensou para responder.

- Nesse momento, meus joelhos começaram a tremer. - Posso me sentar um pouco? - perguntei. - Parece que vou desmaiar. - A assistente concordou com a cabeça.

- Acontece às vezes - disse o recepcionista. - Acho que vou pegar uns sais aromáticos e deixar por aqui.

Momentos depois, conforme eu tropeçava em direção ao carro, o ciclo se completava. Tudo sempre terminava comigo na marcha da vitória, com o seguinte pensamento: "Eu tenho o melhor trabalho do mundo".

A euforia durou precisamente o tempo de escrever a matéria. E foi alarmante descobrir que o Calms funcionava perfeitamente com a maioria dos astros, mas não com os cinco estrelas. O motorista me olhou pelo retrovisor e perguntou:

- Prefere monan ou fleen?

Eu fingi que pensava por um momento, e então respondi:

- Vamos tentar o fleen - sem ter a menor idéia do que isso significava.

*

"Chega de Falar de Mim...".
Autora: Jancee Dunn
Editora: Panda Books
Páginas: 296
Quanto: R$ 39,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 e na Livraria da Folha.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Repórter faz promotor "engolir a fita"

A expressão "engolir a fita" é usada nas situações em que o entrevistado tenta desmentir o jornalista, negando suas afirmações publicadas.
Antes de enviar uma carta à redação do jornal negando o conteúdo publicado, muitos assessores de imprensa confirmam (várias vezes) com o entrevistado "injustiçado" se: 1. o que saiu foi mesmo dito; 2. se a entrevista foi gravada.
É comum o entrevistado mentir para o assessor (não se pode afirmar que é o aconteceu neste caso), por pressão do superior, amigos e colegas de trabalho - sem deixar de lado o esquecimento mesmo. É o famoso "eu jamais diria isso!".
O jornalista, quando é precavido e grava suas entrevistas, tem seu momento de fazer o entrevistado "engolir a fita".

Abaixo, a carta publicada na Folha em 29/10/08

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2910200810.htm

Seqüestro
"É completamente falsa a notícia de que o Gate não teria autorização do governo do Estado ou da Secretaria da Segurança Pública para tomar qualquer decisão durante o seqüestro da menina Eloá ("Governo não autorizou tiro em Lindemberg", Cotidiano). Durante este e outros casos de seqüestro, o Gate dispõe de autonomia para tomar as decisões que considerar mais adequadas a cada momento. É fato que a Secretaria da Segurança se mantém informada sobre as principais ações no âmbito da pasta no Estado, porém as decisões de cada situação local são tomadas pelo oficial que, a cada momento, exerce a função de gerente da crise. Portanto, não tem base a versão de que um suposto "gabinete de crise", do qual esta secretaria e o comando da PM fariam parte, teria negado autorização para realizar um "tiro de neutralização". Tal versão é totalmente equivocada e sem sentido, pois as decisões nessas ações precisam ser tomadas imediatamente diante da oportunidade e conveniência técnica."
ENIO LUCCIOLA , assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (São Paulo, SP)

"Em relação à reportagem "Governo não autorizou tiro em Lindemberg" (Cotidiano, ontem), esclareço que em nenhum momento eu afirmei que os integrantes do Grupo de Ações Táticas Especiais não tinham autorização do "gabinete de crise" e de seus superiores para realizarem o tiro de neutralização contra Lindemberg Fernandes Alves, responsável pelo recente seqüestro em Santo André. Jamais utilizei a expressão "gabinete de crise", referindo-me, na entrevista concedida ao jornal "Agora" e reproduzida pela Folha, sempre a "superiores" ou ao "gerente de crise", no caso o coronel De Pieri, que comandou a operação da Polícia Militar no local. A expressão "gabinete de crise", inclusive, não consta de nenhum trecho do depoimento citado na reportagem. Lamento que o jornal tenha se valido indevidamente de uma expressão não utilizada na entrevista para fazer ilações absolutamente divorciadas da verdade dos fatos."
ANTONIO NOBRE FOLGADO , promotor de Justiça (São Paulo, SP)

Nota da Redação
- Em entrevista gravada, ao ser questionado pela repórter se o gabinete de crise tinha autorizado a invasão, o promotor respondeu: "Não. O tiro dependia de ordem superior; a invasão não".

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Veja entrega fonte que quis plantar notícia

A Revista Veja entregou quem era a fonte de uma reportagem - que acabou se mostrando sem fundamento e não foi publicada.
A "fonte", uma advogada, quis entregar dossiê contra o governador Serra (leia abaixo a reportagem na íntegra) para que a revista publicasse uma reportagem.
O caso lembra o episódio em que a Diogo Mainardi entregou o nome do jornalista e ex-assessor de imprensa Marcelo Netto como fonte do extrato bancário do caseiro Francenildo (http://veja.abril.com.br/290306/mainardi.html).

Abaixo, a reportagem:
http://veja.abril.com.br/291008/p_076.shtml

Brasil
MENSALEIRO E ALOPRADO

Marcos Valério tentou envolver José Serra na farsa que
atingiu a imagem de dois auditores fiscais do governo paulista


Expedito Filho e Alexandre Oltramari

Fotos Paulo Filgueiras/Estado de Minas/PAGOS e Pedro Silveira/O Tempo
EMPREITA DO CRIME Marcos Valério e a advogada Eloá Velloso: sociedade descoberta em operação da Polícia Federal

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o trem pagador do propinoduto petista no escândalo do mensalão, passou as últimas duas semanas atrás das grades. A temporada na cadeia não tem relação aparente com o esquema que o tornou famoso. Valério agora é apontado como o chefe de uma quadrilha, formada por advogados e policiais, que montou uma farsa para desmoralizar funcionários da Secretaria da Fazenda de São Paulo. De acordo com a investigação, que levou Valério e outras dezesseis pessoas para a cadeia, o operador do mensalão corrompeu policiais para abrir um inquérito fraudulento contra dois auditores fiscais que multaram a cervejaria Petrópolis em 105 milhões de reais. O objetivo de Valério com a desmoralização dos auditores seria tornar mais fácil o cancelamento da multa e, certamente, ganhar muito dinheiro com isso. Essa é a parte conhecida da história. Mas há um capítulo ainda inédito da trama: a maquinação, como não poderia deixar de ser, também tinha objetivos políticos. Ela pretendia envolver no escândalo o governador de São Paulo, o tucano José Serra.

A vertente política da empreitada comercial de Marcos Valério está documentada em quatro e-mails enviados pela advogada mineira Eloá Velloso a VEJA, há três meses. Juntamente com o advogado Ildeu Sobrinho, ela foi contratada por Valério para produzir um dossiê contra os auditores, acusando-os de cobrar propina para livrar empresas enroladas com o Fisco. Também coube à dupla corromper delegados da PF para abrir o inquérito forjado e depois divulgar o caso à imprensa. O primeiro objetivo da trama era desmoralizar os auditores. Nos e-mails trocados com VEJA antes de a PF descobrir a trama e prender os advogados juntamente com Valério, Eloá revelou a existência da "investigação", desceu a detalhes como a data dos depoimentos e chegou a enviar cópia das intimações recebidas pelos auditores. Ao citar um dos fiscais, Antonio Carlos de Moura Campos, a emissária de Valério deu a primeira pista sobre o segundo, e talvez o principal, objetivo da gangue: "Fontes do Palácio dos Bandeirantes informam que ele é arrecadador do governo Serra. Fomos informados de que são tucanos e estão desesperados com essa investigação", escreveu Eloá, insinuando que o esquema de corrupção atribuído aos fiscais teria finalidade política. Questionada se o inquérito não poderia ser uma armação, a advogada foi taxativa: "Armação é o que eles (os auditores) estão fazendo". Ou seja: os fiscais, além de corruptos, estariam a serviço do governador de São Paulo.

Com base nas informações repassadas pela advogada, VEJA apurou o caso durante duas semanas. Foram identificadas inconsistências gritantes no inquérito. Uma empresa supostamente de propriedade de um dos auditores investigados na verdade pertencia a um homônimo argentino do fiscal. Um terreno que seria de outro auditor, situado às margens do Rio Tietê, em São Paulo, ficava, na verdade, em Tietê, interior do estado. Ouvidos, os fiscais também negaram qualquer irregularidade. Apesar da existência formal do inquérito, VEJA decidiu não divulgar a investigação por causa de suas inconsistências. "Na condição de alvo da farsa montada por organização criminosa com o objetivo de denegrir minha imagem e a de meu colega Eduardo Fridman, em boa hora desbaratada pela exemplar atividade investigativa desenvolvida pela PF no decorrer da Operação Avalanche, sinto-me no dever de expressar de público meus respeitos pela postura ética assumida por VEJA", escreveu o auditor Antonio Carlos de Moura Campos em e-mail enviado à revista. VEJA só soube que o inquérito era obra de Valério, usando a advogada Eloá como intermediária, depois das prisões.

A tramóia para incriminar os auditores e envolver José Serra no falso escândalo começou a ser desbaratada há três meses. Ao investigarem uma quadrilha de policiais corruptos, o Ministério Público Federal e a PF descobriram que os advogados Ildeu Sobrinho e Eloá Velloso haviam encomendado um dossiê contra os auditores. A dupla, então, passou a ser monitorada por escutas telefônicas, ambientais e interceptação de e-mails. A investigação revelou que eles patrocinaram o inquérito forjado a mando de Valério. Em agosto passado, ao deterem Ildeu Sobrinho com 1 milhão de reais em espécie, os investigadores descobriram que o dinheiro havia sido entregue a ele por Valério e seria usado para pagar os policiais corruptos. O lado oculto da farsa guarda semelhanças com a atuação dos aloprados petistas presos em 2006 tentando comprar um falso dossiê contra Serra às vésperas das eleições. O caso levou ao afastamento do presidente do PT, Ricardo Berzoini, derrubou o coordenador da campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista, Hamilton Lacerda, e atingiu membros da campanha à reeleição do presidente Lula, como o churrasqueiro presidencial Jorge Lorenzetti e o ex-policial Gedimar Passos. "Ainda não sabemos quais foram as motivações de Marcos Valério para envolver o governador José Serra nesse caso", diz um dos investigadores. O mistério pode não ser tão impenetrável assim.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dicas de Kassab para debates

A reportagem da FSP (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2710200818.htm) traz alguns macetes utilizados por Kassab em frente às câmeras para conquistar a simpatia dos eleitores.

Kassab segue à risca manual de marqueteiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Gilberto Kassab se comportou como o político dos sonhos de qualquer marqueteiro. Em sua primeira eleição como titular de um cargo majoritário, o novo prefeito de São Paulo acatou a maior parte das orientações de sua equipe de comunicação.
Foi um aluno aplicado de técnicas para melhorar sua imagem. Ensaiou gestos, entonação de voz e até movimento das sobrancelhas.
Aos 48 anos e duas décadas de vida pública, o democrata utilizou pela primeira vez nesta campanha um treinamento intensivo de comunicação, coordenado pelo marqueteiro Luiz Gonzalez.
Esforçado, lia a cada semana uma apostila diferente com dicas para melhorar a imagem. Nas ruas, no horário eleitoral e nos debates, colocou as técnicas em prática, a cada dia mais confortável com a performance.
Por sugestão de Gonzalez, por exemplo, passou a se debruçar nas tribunas dos debates do segundo turno e a olhar fixamente para a câmera. A idéia era estabelecer intimidade com o espectador.
Mesmo quando atacado por Marta Suplicy, evitava olhar para adversária. Outra recomendação acatada: gesticular mais e usar as sobrancelhas ao falar. O candidato, se contido, avaliavam seus assessores, poderia transmitir insegurança. Mais relaxado, expressaria "verdade".
Submetido ao que seus assessores chamaram de "imersão" - com gravações ao menos três vezes por semana -, Kassab reproduziu em público expressões comuns ao vocabulário do próprio Gonzalez. Um exemplo: "Marta está "estressadinha'". (LAURA MATTOS)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A mídia matou Eloá?

Veja o que acha o professor da pós-graduação da PUC-SP Norval Baitello Jr, doutor em distúrbios da imagem, em entrevista à Folha de SP

21 de outubro de 2008


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Mídia exagerou e fez com que criminoso se visse como um herói, afirma professor

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Passado o cárcere privado, uma pergunta se volta aos próprios meios de comunicação: até que ponto a veiculação de entrevistas ao vivo com o criminoso contribuiu para o desfecho trágico do caso? Para o professor da pós-graduação da PUC-SP Norval Baitello Jr, doutor em distúrbios da imagem e estudioso do assunto há 20 anos, a mídia "exacerbou a psicopatia que estava em jogo" e fez com que o captor se visse como herói. Leia abaixo trechos da entrevista.

FOLHA - Como o senhor analisa o papel desempenhado pela mídia no cárcere privado de Santo André?
NORVAL BAITELLO JR
- Acho que foi bastante equivocado, desde o começo. Mas isso talvez se deva a um equívoco básico, que é o de que a mídia tem de informar a qualquer custo. E esse fetiche da informação coloca qualquer notícia no mesmo patamar.

FOLHA - Até que ponto a veiculação de entrevistas ao vivo e declarações do seqüestrador contribuíram para o desfecho trágico do caso?
BAITELLO JR
- Acredito que esse fetiche da informação a qualquer custo não passa de espetacularização. Se confunde espetacularização com informação porque a espetacularização vende mais do que a notícia.

FOLHA - A mídia realçou os traços emocionais da tragédia?
BAITELLO JR
- A mídia exacerbou a megalomania, a psicopatia e a loucura que estava ali em jogo.

FOLHA - Os repórteres e apresentadores não saíram do seu papel, que é informar, ao negociar e falar diretamente com o criminoso?
BAITELLO JR
- Todo mundo colocou os pés pelas mãos.

FOLHA - Qual o limite para a cobertura dos meios de comunicação?
BAITELLO JR
- Não existe um limite. Os meios de comunicação têm de cuidar também da sua própria imagem. Esse caso foi péssimo para a sustentabilidade dos próprios veículos.

FOLHA - As TVs e os jornais não fizeram uma glamourização da atividade criminosa?
BAITELLO JR
- Uma vez que ele aparece na televisão, passa a se ver como um herói.

FOLHA - A mídia não aprende com seus próprios erros?
BAITELLO JR
- Falta um acordo tácito da própria mídia. À medida em que há uma escalada, em que o concorrente mostra cenas fortes, o jornal é coagido. É preciso estabelecer limites.

FOLHA - Isso parece ser o modelo americano de cobertura.
BAITELLO JR
- O modelo europeu tem sido muito mais cuidadoso. Isso é totalmente americano. Por isso se vê lá uma escalada da violência.

Lançamento de livro sobre assessoria de imprensa

Do Paulo Piratininga, um excelente assessor e empresário.

"Como usar a mídia a seu favor - As melhores práticas para ser notícia"

Dia 12 de novembro

Na livraria Martins Fontes, Av. Paulista 503, a partir das 19h.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Lugar comum: a economia da Islândia "derreteu"

O efeito estufa chegou aos trocadilhos e marcou presença em todos os jornais do mundo. Faltou criatividade?

The Econonomist:
ONE word on every tongue in Iceland these days is kreppa. Normally it means to be “in a pinch” or “to get into a scrape”, but when it is applied to the economy, it becomes “financial crisis”. In time kreppa may become the word that conjures up the disastrous meltdown that is now taking place in the country’s economy.
http://www.economist.com/finance/displaystory.cfm?story_id=12382011

Folha de SP:
(...) na Islândia, o sistema bancário derreteu e houve ameaça de corrida aos bancos; os Estados Unidos estão a ponto de recorrer ao FMI; o Citibank vai pelo mesmo caminho da Panair, Transbrasil, Vasp, Varig, TWA, Pan Am e Swissair e, em Paris, capital mundial do turismo, de um dia para o outro, os restaurantes ficaram às moscas. Trilhões delas.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1010200804.htm

Estado de SP (colocou até no título):
Economia da Islândia derrete e país teme quebra

Há poucas semanas, o governo da Islândia se reuniu para tratar de uma ameaça ao futuro da ilha: a elevação dos níveis do mar pelo derretimento das calotas polares. Hoje o problema é outro: o derretimento de sua economia. Ontem, o governo anunciou a nacionalização do maior banco do país e fechou a bolsa de valores, provocando a ira dos ingleses, que têm bilhões nos bancos da ilha. Para analistas, o país nórdico se transformou no exemplo mais concreto do que a crise pode fazer com uma das economias mais ricas do mundo, ameaçada até de "falência nacional".
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081010/not_imp257214,0.php

Time (no título):
A Meltdown in Iceland
http://www.time.com/time/world/article/0,8599,1848379,00.html

Forbes:
Icelandic Meltdown
http://www.forbes.com/2008/06/25/iceland-banking-credit-biz-bizcountries08-cx_pm_0626iceland.html

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Finalmente, o "erramos" da Folha, que causou o mal estar

MUNDO (2.OUT, PÁG. A16) O presidente do Equador, Rafael Correa, não afirmou, como foi publicado, que a Colômbia "tem um governo [Álvaro Uribe] que não consideramos amigo"; disse que a Colômbia tem um governo que "considerávamos amigo".

Íntegra da entrevista com o presidente do Equador

Também somente para assinates da Folha:

São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008




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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Carta garantirá governabilidade, diz Rafael Correa

Presidente do Equador afirma que não acumulará poderes e aponta prerrogativa do Congresso de destituir presidente

Equatoriano mantém críticas à Odebrecht e diz que, quanto menos obras a empreiteira brasileira tiver, melhor para o seu país

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Fortalecido pela vitória no referendo do último domingo que ratificou a nova Constituição do país, o presidente do Equador, Rafael Correa, defendeu a Carta e negou que esteja promovendo um regime "hiperpresidencialista", com acúmulo de poderes. "[A Constituição] vai acabar com a falta de governabilidade de que o país vem sofrendo", disse. Os três presidentes eleitos no Equador antes de Correa não terminaram seus mandatos.
Em entrevista exclusiva à Folha após um dia de reuniões em Manaus com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela), o economista de 45 anos disse que, embora esteja agora autorizado a dissolver o Congresso, o Legislativo detém a mesma prerrogativa quanto à Presidência. Em ambos os casos, argumentou, novas eleições têm de ser convocadas, no que é chamado de "morte cruzada".
Correa afirmou ainda que não irá "retroceder um passo" na intervenção nas operações da empreiteira brasileira Odebrecht no Equador. Seu governo embargou as operações da empresa no país na semana passada, sob acusação de falhas na construção de uma hidrelétrica: "Quanto menos contratos tiver a Odebrecht, melhor para o país". Leia trechos da entrevista, concedida por Correa ao lado de assessores, membros do governo e técnicos que filmaram a conversa.

FOLHA - O que ocorreu com a Odebrecht no Equador?
RAFAEL CORREA
- A Odebrecht fez uma obra [hidrelétrica San Francisco] com terríveis problemas. Em menos de um ano, uma obra de mais de US$ 300 milhões e que deveria durar mais de 30 anos ter deixado de funcionar é responsabilidade direta da empresa.
Estamos estudando um acordo por iniciativa da empresa [a Odebrecht divulgou nota ontem à tarde dizendo que concordava com as exigências do governo equatoriano]. Parece que ela não entende que há um novo governo no Equador, que não pode ser subornado, pressionado. Não estamos negociando com a empresa, mas exigindo nossos direitos e não vamos retroceder nem um passo.

FOLHA - Como ficará o futuro da Odebrecht no Equador? A empreiteira poderá participar de licitações, como a do projeto Manta-Manaus?
CORREA
- Depois do que temos vivido, quanto menos contratos tiver a Odebrecht, melhor para o país, porque começamos a analisar outros contratos, sempre lesivos ao interesse nacional [...], coisas inauditas que só puderam ser feitas por ousadia da empresa, com cumplicidade de funcionários equatorianos corruptos. A Odebrecht tem que entender que esse velho país acabou em 15 de março de 2007 [data de sua posse].

FOLHA - A Petrobras recentemente devolveu ao Equador o bloco de exploração de petróleo 31, após o sr. aumentar a carga tributária das petroleiras. Essas mudanças não afugentarão investimentos externos?
CORREA
- Qual será o papel do Estado? O que sempre deveria ter sido, de acordo com a Constituição atual e com a aprovada: o petróleo é dos equatorianos, e o que se fez foi um contrato de participação, em que o Estado era um sócio minoritário e sem voz. Estamos renegociando rumo a contratos de prestação de serviços, onde o dono do recurso é o Estado.

FOLHA - Sobre a Constituição, a principal crítica é que ela garantiu superpoderes ao sr., que poderá inclusive dissolver o Congresso. Por que a inclusão desse artigo?
CORREA
- Temo que a sra. tenha má informação. A Constituição não é hiperpresidencialista. Pelo contrário, prevê uma série de controles ao presidente, devolve ao Congresso a atribuição de destituir ministros de Estado.
Há apenas duas atribuições novas [do presidente]: planificação, capacidade que tinha antes da Constituição de 1998 e que foi destruída pelo neoliberalismo, e dissolver o Congresso.
Posso dissolver o Congresso em caso de boicote ao plano de desenvolvimento do país, mas nesse momento tenho que colocar meu cargo à disposição do povo equatoriano. O que não se diz é que o Congresso também pode destituir o presidente em caso de grave comoção interna, mas nesse momento se antecipam as eleições presidenciais e legislativas. Isso é o que se chama de "morte cruzada", um instrumento moderno para promover a governabilidade.
Na história recente do Equador, a todo momento o Congresso destituiu presidentes, declarando-os loucos por conveniência política, porque nada acontecia ao Congresso. Com essa possibilidade de destituir o Congresso uma única vez, se elimina essa fonte de boicote, e acabará a falta de governabilidade de que o país vem sofrendo nos últimos anos.

FOLHA - E quais são os planos do sr. sobre uma futura reeleição, que lhe permitiria ficar no poder até 2017?
CORREA
- Não penso nisso. Isso será uma decisão do partido ao qual pertenço.

FOLHA - Está superada pelo seu governo a questão com o governo da Colômbia [que em março invadiu o território equatoriano para atacar uma base das Farc]?
CORREA
- De nenhuma maneira. Nossas relações estão cortadas porque, entre outras coisas, a Colômbia tem informações de gravações do bombardeio e nada nos informou. Esse caso nunca será superado porque há uma clara agressão deliberada e desleal ao território equatoriano por parte de um país que consideramos irmão, porém tem um governo [Álvaro Uribe] que não consideramos amigo.
Temos que seguir com dignidade e isso implica, entre outras coisas, que a Colômbia entregue todas as informações de como se realizou esse ataque e que compense ao menos a vítima equatoriana desse ataque.

FOLHA - O presidente Lula disse que está tranqüilo com a crise nos EUA, mas a vê com apreensão. A crise atingirá o Equador?
CORREA
- O efeito efeito dependerá da resposta que os EUA derem à crise. Em todo caso, a América Latina tem que se preparar para não depender do que acontece nos EUA.


Colaborou FABIANO MAISONNAVE

Leia a íntegra da entrevista www.folha.com.br/082752

Folha erra e tensiona relações entre Equador e Colômbia

O texto é aberto apenas aos assinates do Comunique-se. Reproduzo abaixo a íntegra para facilitar.

Folha erra e tensiona relações entre Equador e Colômbia

Carla Soares Martin, de São Paulo

O jornal Folha de S.Paulo equivocou-se numa entrevista (para assinantes) com o presidente do Equador, Rafael Correa. Ao transcrever um diálogo com o presidente, informou erroneamente que Correa dizia que a Colômbia é um “governo que não considerávamos amigos”, em resposta a uma pergunta sobre o abalo nas relações entre os dois países desde que, em março, a Colômbia entrou em território equatoriano para atacar uma base das Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Como explica uma nota (para assinantes) na Folha desta segunda (06/10), foi colocado um “não” que não fora dito por Correa. “Na entrevista, quando questionado se considerava superada a crise com a Colômbia, após o ataque colombiano a uma base das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador, em 1º de março, Correa disse, segundo seus assessores: ‘(...) houve uma clara agressão deliberada, desleal ao território equatoriano não por parte de um país que consideramos irmão, mas de um governo que considerávamos amigo’. No texto publicado pela Folha foi incluído um ‘não’ que mudou o sentido da frase: ‘Esse caso nunca será superado porque há uma clara agressão deliberada e desleal ao território equatoriano por parte de um país que consideramos irmão, porém tem um governo que não consideramos amigo’”, disse a Folha.

O jornal justificou o erro por uma dificuldade de se entender a fala de Correa. A Folha também disse que omitiu uma parte da entrevista, em que o presidente equatoriano afirma que: “‘em todo caso, temos que olhar para a frente e seguir’, dando a entender que poderia haver acordo com Bogotá” (transcrição da Folha).

Mal-estar
O fato é que a entrevista com Correa intensificou o mal-estar entre os dois países. Na sexta-feira (03/10), dia seguinte à publicação da entrevista, a Embaixada da Colômbia postou um comunicado no site no qual recua da decisão de ir à reunião de cúpula da Comunidade Andina das Nações (CAN), que acontece em 14/10, por causa da declaração de Correa “aos meios de comunicação”, sem deixar claro que era devido à entrevista com a Folha de S.Paulo.

Em 04/10, sábado, surgiria a resposta do governo equatoriano, em outro comunicado. O Ministério das Relações Exteriores corrige a declaração da Folha, sem citar que havia sido dada ao jornal, e sim a um “meio de comunicação do Brasil”. Diz ainda que a entrevista foi utilizada por Uribe como “pretexto” para a Colômbia deixar de participar do encontro andino.

Nesta segunda (06/10), em contato com as embaixadas de ambos os países, o governo colombiano informou que não tem novidades acerca da questão. Não disse se, mesmo com o esclarecimento da Folha, vai voltar atrás da decisão de não ir à reunião da CAN.

A embaixada do Equador confirmou que as relações entre os países ficaram “afetadas” com a declaração da Folha e informou que aguarda uma decisão do presidente Uribe em torno do assunto.

Editora de Mundo
A editora de Mundo da Folha, Claudia Antunes, informa que o jornal “não tem problema em fazer correções”. Disse ainda que ficou sabendo do erro por meio das agências de notícias internacionais, que reproduziram o que o presidente equatoriano disse em seu programa de rádio e TV no sábado (04/10). “Como ele não explicitava que erro tinha sido cometido, busquei informações no site do Ministério das Relações Exteriores do Equador. Lá, havia a nota que esclarecia o trecho da entrevista que estava transcrito errado. E o jornal tomou a iniciativa de fazer a correção – em duas notas, uma no domingo e outra hoje”, disse a editora.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Globo demite repórter que ‘derrubou’ avião

Folha de SP, 5 de junho - Daniel Castro

Globo demite repórter que ‘derrubou’ avião

A TV Globo demitiu anteontem o jornalista que teria sido responsável pela divulgação, pelo canal Globo News, da falsa notícia de que um avião da empresa Pantanal havia se chocado contra um prédio na zona sul de São Paulo, na rota de pouso do aeroporto de Congonhas, no último dia 20.
A "barriga" (jargão jornalístico para falsa notícia) foi reproduzida por outras TVs, rádios e sites do Brasil e do exterior. Foi corrigida cinco minutos depois, quando já havia repercutido até no Congresso Nacional. Era apenas um incêndio em uma loja de colchões.
O jornalista demitido tinha o cargo de produtor (repórter que não aparece no vídeo), mas era um "faz-tudo": apurava, escrevia as cabeças (texto lido pelo apresentador) e editava. Atuava como um editor-chefe informal em São Paulo do "Jornal das Dez", principal telejornal da Globo News.
Na tarde do dia 20, ele estava extra-oficialmente chefiando a Redação da Globo News em São Paulo. Ele teria recebido a "informação" da rádio-escuta (setor que faz a primeira apuração com fontes oficiais, como bombeiros e polícia) e a passou para a Redação do Rio de Janeiro, sede do canal, que a colocou no ar. A falsa informação teria sido passada pela Defesa Civil.
Procurada, a Globo se limitou a dizer que "tomou as medidas que julgou necessárias e que dizem respeito aos seus procedimentos internos".

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Jornalistas do "O Dia" sofrem tortura

A história é bizarra:

31/5/2008 18:36:00

Milícias - Política do Terror: Detalhes da história

Rio - A noite do dia 14 de maio não terminou para a equipe de O DIA que fazia reportagem especial na Favela do Batan, Zona Oeste. Repórter e fotógrafo completavam 14 dias vivendo no local e a ansiedade natural do grupo – que sabia estar em território inimigo e tomava todos os cuidados para não chamar a atenção – deu lugar a um desconfiado otimismo, depois que moradores da favela convidaram parte da equipe para uma cerveja no Largo do Chuveirão. Fotógrafo e motorista, que havia se unido ao grupo, aceitaram o convite. A repórter ficou em casa, para não desobedecer a velada ordem da favela, que lança olhares de reprovação a mulheres desfrutadoras da noite.

A lei local, paralela como toda estrutura de comércio e serviços na região, também definiu fim violento para o trabalho da equipe do jornal na comunidade. No Largo do Chuveirão, local de maior concentração da favela, uma emboscada à vista. Fotógrafo e motorista, que imaginavam estar apenas indo para uma festa, acabaram conhecendo o inferno: foram rendidos por 10 homens armados, usando toucas ninja para cobrir o rosto. Mas outras coisas os bandidos não faziam questão de esconder: um dos carros usados no seqüestro foi o Polo vermelho placa KPB 4592, veículo de "policiamento" da milícia local. Sim, eram policiais e faziam questão de ressaltar isso.

Os bandidos que usam farda nas horas vagas algemaram os dois integrantes da equipe e os mostraram a cerca de 30 moradores, que, assustados, saíram de suas casas para ver quem seriam as próximas vítimas dos neoditadores. Os criminosos tentaram obrigar a população a linchar a equipe, não queriam sujar as mãos de sangue. Mas não foram atendidos e acabaram seguindo com a dupla e um morador que os acompanhava até a casa que havia sido alugada pela equipe, na Rua Alfredo Henrique, uma das principais da favela.

O relógio havia acabado de passar das 21h quando a campanhia das casas semigeminadas do endereço tocou. Do lado de dentro, a repórter imaginou que eram seus companheiros. Do lado de fora, sete homens armados e com toucas ninja a esperavam, prontos para novo ato de covardia. Ao abrir a porta, a jornalista foi rendida com arma na cabeça. Os bandidos, mais uma vez, não esconderam sua função original e deram voz de prisão, como se fossem policiais exercendo a lei. "Você é do Jornal O DIA e está presa por falsidade ideológica", disse o mascarado conhecido como Zero Um, sujeito franzino que lidera a milícia local.

Rendida, a repórter sentou com a cara na parede, enquanto dois homens começavam a sessão de tortura que só acabaria dali a mais de sete horas. Chutes, socos, gritos e ameaças abriram caminho para o terror que iria enfrentar: submetida e subjugada à violência do bando, a jornalista viu uma arma ser encostada em sua cabeça para, em seguida, um marginal rodar a caixa de bala e acionar o gatilho duas vezes em uma roleta-russa impiedosa. Enquanto isso, outros cinco bandidos reviravam a casa atrás de câmeras escondidas ou escutas. Nada encontraram, mas saquearam pertences e dinheiro da equipe.

Sozinha e apavorada, a repórter ainda seria vítima de novas barbáries: teve a cabeça enfiada numa sacola plástica e foi obrigada a descer as escadarias da casa alugada até chegar ao carro, onde já estavam algemados o fotógrafo, o motorista e um morador da favela que os acompanhara à festa.

Os milicianos tentaram enfiar um integrante da equipe na mala do carro, mas desistiram, pois o veículo tinha kit-gás. Algemados e feridos, os quatro seguiram amontoados no banco de trás do carro da reportagem até o cativeiro. No caminho, mais ameaças: "Nós vamos fazer vocês cheirarem cocaína e vamos jogar vocês cheios de drogas no Fumacê para que os traficantes cuidem de vocês".

O carro percorreu longo caminho e deu volta em um largo próximo a um motel. Foram buscar "a chave" do local usado para a tortura. Durante o caminho, esfregavam as armas nos rostos das vítimas e descreviam uma futura morte trágica para a equipe.

Os criminosos conversavam pelo rádio todo o tempo. Um carro seguia na frente, fazendo o que chamavam de "varredura" do terreno. Só depois do OK, o automóvel de trás seguia. Após meia hora, o cativeiro. O chão úmido de cimento grosso foi o destino dos quatro depois de uma sucessão de socos, chutes e tapas. Apesar de a equipe de O DIA tentar informar que o morador da favela nada sabia sobre a identidade do grupo, ele também foi espancado.

Os agressores controlavam a voz temendo chamar a atenção da vizinhança. Durante a tortura era possível ouvir alguém tocando clarinete nas redondezas. Uma rádio evangélica foi sintonizada para abafar o barulho do espancamento.

A execução do grupo seria decidida por um "coronel" que estava a caminho. Os espancamentos eram entremeados por longos discursos. Na ideologia torta dos bandidos, a presença na comunidade colocava em risco um relevante projeto. "Existem muitos policiais corruptos, mas nós não somos corruptos. A gente se mata de trabalhar aqui, leva tiro de vagabundo para vocês chegarem e estragar o projeto social que estamos fazendo. Nós não somos bandidos", discursava um dos milicianos com voz distorcida e inspiração nazista. A repórter perguntava: "Se vocês não são bandidos, por que estão fazendo isso?" A resposta dos seqüestradores não vinha em palavras, mas sim em socos e tapas.

O ‘Coronel’ chegou. Coturnos e uma calça azul de farda da PM estavam no ambiente. Também se falava na presença de um "comandante". Mais torturadores os acompanhavam. Um deles soltou sem querer uma frase mostrando que conhecia a equipe do jornal de outro ponto da favela. Neste momento, a casa tinha pelo menos 20 homens. Seriam os algozes da longa sessão de horror imposta. A covardia atingiu níveis sobre-humanos. Como nos porões das ditaduras mais sombrias, choques elétricos e sufocamentos com sacos plásticos passaram a ser aplicados até o limite do desfalecimento. Para acordar as vítimas, socos e pontapés. Para deixar o grupo ainda mais apavorado, eles foram levados para quartos separados.

A tortura também era psicológica, com os milicianos revelando detalhes sobre a vida pessoal dos reféns. Extenuados, repórter e fotógrafo foram obrigados a fornecer senha de e-mails para que fosse feita uma varredura no que havia sido passado de informação para a redação.

A descoberta dos relatórios enviados para o jornal fez com que os agressores redobrassem o castigo. Ali, eles souberam que tinham sido realmente identificados: textos e fotos mostravam viaturas oficiais do BPVE (Batalhão de Policiamento de Vias Especiais) circulando livremente na favela, homens fardados conversavam tranqüilamente com policiais à paisana... As agressões físicas e psicológicas chegaram a níveis extremos, inclusive com ameaças de morte cada vez mais constantes.

O destino da equipe só foi decidido aproximadamente às 4h, quando os seqüestradores, tal como juízes, anunciaram o veredicto: iriam libertar as vítimas. Não sem antes roubar celulares e dinheiro do grupo, agindo como reles vagabundos de rua. Às 4h30, finalmente, a equipe foi solta na Avenida Brasil.

Machucadas, humilhadas e apavoradas, as vítimas não arriscaram procurar uma delegacia para registrar queixa ou fazer corpo de delito. Havia o medo latente de que outros policiais estivessem envolvidos com o bando do Batan. Não era possível, naquele momento, saber quem estava ao lado de quem. Era o início de uma nova vida para os envolvidos. Por um lado, o alívio por estarem vivos. Por outro, com a dor e o terror marcados na memória.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Jornais divulgam notícia falsa (barriga) sobre queda de avião da Pantanal



Atrás do furo e da exclusividade, vários veículos de qualidade deram como certa a queda de um avião da Pantanal ontem em SP. Ninguém sabe como começou o boato.

Até hoje, alguns ainda davam a notícia como certa, como o Noblat (acima).

Leia a reportagem do Comunique-se, que ouviu os ombudsman de vários jornais.

TV dá barriga e sites repercutem sem checar


Da Redação



O incêndio que atingiu na tarde da terça-feira (20/05) um prédio localizado em Moema, na zona sul de São Paulo, foi manchete, por alguns minutos, dos principais sites de notícia do País. O problema é que, na pressa para informar seus leitores, alguns veículos online se basearam em informação da Globonews de que um avião havia se chocado com o prédio e não tiveram o cuidado de checar.
“Avião atinge prédio em São Paulo” era uma das manchetes do Globo Online. Ao perceber o erro, minutos depois, o título mudou para "Incêndio atinge prédio em São Paulo". O UOL já foi mais categórico: “Avião da Pantanal cai na zona sul de São Paulo”.
A ombudsman do Portal, Tereza Rangel, não perdeu tempo. Lamentou que mal estreou a nova central de jornalismo e já caiu na tentação de copiar informação da TV.
“A ‘informação’ estava errada. Quando percebeu o erro, o UOL mudou o texto (sem alterar o horário), tirou o assunto da manchete e simplesmente adotou a fórmula "a informação inicial era de que um avião da Pantanal teria se chocado contra um prédio residencial, mas ela foi desmentida minutos depois pela Infraero, pelos Bombeiros e pela própria companhia". A ressalva não pode servir de desculpa para que não seja feita uma errata, até porque o título do texto afirmava, categoricamente, que o avião caíra. Se o UOL levou a ‘notícia’ à sua manchete é porque precipitou-se e, sem apuração própria, comprou a versão da TV, disseminando entre os internautas que houvera um acidente inexistente. A prática de cozinhar e assumir informações (certas ou erradas) da TV e rádio é comum em portais da Internet, mas não deveria ser adotada pelo UOL”.
Em resposta, o gerente de notícias do UOL, Rodrigo Flores, prometeu fazer uma errata.
Mario Vitor Santos, ombudsman do iG, também não deixou passar o erro. "O iG acaba de anunciar erradamente a queda de um avião em bairro residencial de São Paulo. A notícia ('Avião cai em bairro residencial de São Paulo') não se confirmou. O texto era lido a partir da manchete da capa do iG. Foi colocado como um link da manchete que anunciava um incêndio na capital. Minutos depois da notícia errada do desastre, mais grave ainda numa cidade já traumatizada por acidentes desse tipo nas imediações do aeroporto de Congonhas, a notícia foi retirada do ar. A manchete passou a anunciar um incêndio numa fábrica de colchões. O iG precipitou-se e errou. Deve ter confiado em quem não deveria. Atribuiu o erro à Infraero. Certamente não verificou a informação antes de levá-la ao ar. Precisa avaliar isso, e corrigir com o mesmo destaque dado ao falso acidente de avião. Além disso, precisa agora acompanhar correta e cautelosamente o incêndio que de fato parece ter existido".
A assessoria de imprensa da Infraero disse ao Comunique-se que em nenhum momento confirmou a notícia de queda de um avião.
A Central Globo de Comunicação informou em comunicado: “A respeito do incêndio ocorrido hoje à tarde em São Paulo, a Globo News, como um canal de noticias 24 horas, pôs no ar imagens do fogo assim que as captou. Como é normal em canais de notícias, apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens. A primeira informação sobre a causa do incêndio recebida pela Globo News foi a de que um avião teria se chocado com um prédio na região do Campo Belo, Zona Sul de São Paulo. Naquele momento bombeiros e Infraero ainda não tinham informação sobre o ocorrido. As equipes da própria Globo News constataram que não havia ocorrido queda de avião e desde então esclareceu que se tratava de um incêndio em um prédio comercial. Poucos minutos depois o Corpo de Bombeiros confirmou tratar-se de um incêndio em uma loja de colchões”.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Email entre jornalista e promotor é usado pela defesa de policial acusado de corrupção

Esta notícia é bem interessante, do site Comunique-se (voltado aos jornalistas). O conteúdo é aberto apenas aos assinantes, assim segue a íntegra:

Email entre jornalista e promotor é usado pela defesa de policial acusado de corrupção


Carla Soares Martin
Um email do promotor José Barbutto, do Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco), de Guarulhos, para a repórter Márcia Regina Dias, do jornal Mogi News, com a denúncia de um suposto caso de corrupção de 13 policiais em Suzano, na Grande São Paulo, chegou à defesa de um dos policiais e foi incluído no processo.
O caso apurado por Márcia é o mesmo investigado pelo jornalista Edson Ferraz, da TV Diário, que sofreu um atentado na quinta passada (15/05). Os 13 policiais civis teriam recebido propina para manter funcionando, ilegalmente, boates, máquinas de caça-níqueis e casas de prostituição.
No email, Barbutto dava indicações de como a jornalista deveria apresentar a denúncia, como a de não publicar a denúncia completa, pois havia retirado dados como as transações bancárias dos acusados, e as transcrições literais da acusação. Se as informações fossem incluídas, a legitimidade da Promotoria ao Poder Judiciário poderia ficar prejudicada. "Queremos evitar que se diga que os Promotores estão querendo aparecer", afirmou, na mensagem.
Como a denúncia não corria em segredo de Justiça, a jornalista do Mogi News acabou passando a cópia do email - tanto a mensagem como a denúncia anexa - para outros colegas e alguns policiais acusados. "Procurei as partes antes de publicar a matéria", disse. "Queriam ler o documento antes de se pronunciarem".
Um dos policiais apresentou o documento ao advogado, que o juntou ao processo como possível prova. A defesa acusou o promotor de nortear o trabalho da imprensa a favor da acusação. Como resultado, a Justiça decretou sigilo para o caso.
O promotor, por sua vez, parou de atender à jornalista, por acusá-la de apoiar os policiais. Márcia nega, pois Barbutto não teria pedido o sigilo. O promotor José Barbutto preferiu não comentar o caso.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Como corrigir uma entrevista ao vivo

Na hora de falar com o repórter, você passou uma informação errada e a gravação era ao vivo? O que fazer? Assista algumas dicas neste video:

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Blogs não-oficiais como fator de crise

A Starbucks lançou ano passado um blog oficial (do presidente) para evitar que os internautas tivessem apenas um blog "não-oficial" como fonte de informação. O Starbucks Gossip (fofoca, em inglês) é responsável por divulgar notícias, lançamentos e disputas internas da empresa.

Reportagem analisa crise de imagem do FOX

A Revista Exame desta semana publicou uma reportagem sobre a crise de imagem do Fox com o seu sistema para rebater o banco traseiro - acusado de decepar dedos de 22 consumidores.
O valor do prejuízo à imagem da Volks ainda não foi calculado nessa crise que já dura 4 anos (já foi tema de reportagem de capa da revista Época, reportagem do Jornal Nacional...).

http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0917/negocios/m0158370.html


O grande erro da Volks
01.05.2008
Por mais de três anos, a montadora negou falhas graves em um dispositivo do Fox. Agora, a Volks corre contra o tempo para resolver o problema -- e preservar sua imagem

Por Marcelo Onaga e Paula Barcellos
EXAME Na indústria automobilística costuma-se dizer que o pior recall é aquele que deixou de ser feito. O raciocínio por trás dessa teoria é que a convocação de milhares de clientes e o reparo de defeitos nos carros, por mais custosos que sejam, é uma opção muito menos arriscada do que enfrentar uma crise de imagem que afete a credibilidade da marca. No entanto, apesar de óbvia, essa regra tácita nem sempre é seguida -- e o resultado final, invariavelmente, é desastroso. Foi justamente esse cenário de desastre que se instalou na operação brasileira da Volkswagen, na qual engenheiros e técnicos correm contra o tempo para solucionar uma falha de projeto em um dos carros mais vendidos da empresa, o Fox. Vinte e dois compradores do carro sofreram acidentes em uma operação que deveria ser corriqueira -- soltar o encosto do banco e rebater o assento para ampliar o espaço do porta-malas. Oito deles tiveram os dedos decepados ao acionar um mecanismo que, para os projetistas do carro, é extremamente simples. Desde o primeiro acidente, registrado em 2004, a direção da Volkswagen sempre insistiu que o problema era das vítimas, que não haviam acionado o sistema corretamente. A posição foi reiterada pelo presidente da empresa, o alemão Thomas Schmall, em uma entrevista ao Jornal Nacional, em fevereiro deste ano. "Basta seguir as instruções contidas no manual do proprietário para fazer a operação de forma correta", disse ele. No entanto, há duas semanas a Volks se comprometeu a encontrar uma solução técnica para o problema e realizar em 60 dias um recall de todas as 477 000 unidades do Fox vendidas no Brasil. A decisão foi uma resposta à pressão do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça, que ameaçava punir a empresa caso nenhuma medida fosse tomada.
Desenvolver uma peça ou sistema alternativo que transforme o rebatimento do banco do Fox em uma operação totalmente segura não será tarefa simples -- e não há um cálculo confiável que possa avaliar quanto isso vai custar. Desde 2005, a Volkswagem vem fazendo pequenas alterações no dispositivo, mesmo reiterando publicamente que não há nada de errado com o carro. A última delas foi um anel de borracha, que, desde fevereiro, a montadora passou a oferecer e instalar gratuitamente, numa espécie de recall informal. Os técnicos do Ministério da Justiça, no
entanto,avaliaram todas as medidas adotadas até agora inócuas. A reformulação total do dispositivo de rebatimento é considerada inviável técnica e economicamente, já que envolveria a estrutura do carro. Da mesma forma, o órgão federal de defesa do consumidor acha que a tentativa da empresa de alertar os proprietários dos riscos e da forma correta de operação do mecanismo é insuficiente. "É uma questão muito complicada, porque, além das mudanças no sistema em si, a solução precisa levar em conta o custo e fatores logísticos, como o tempo que o carro fica parado na concessionária para o reparo", afirma o especialista Paulo Roberto Garbossa, da consultoria ADK Automotive. Caso não apresente uma proposta viável no prazo acertado com o Ministério da Justiça, a Volkswagen está sujeita a ser multada em 50 000 reais por dia. Procurada, a empresa não quis comentar o assunto.

Os riscos do Fox
O sistema de rebatimento do banco traseiro do Fox apresenta três problemas que podem oferecer riscos aos usuários
ArgolaÉ a peça que mais provocou acidentes. A Volks criou um dispositivo de borracha para tentar diminuir os riscos
TravaNo processo de rebatimento do banco, o usuário pode prender a mão sob a trava entre o assento e o assoalho do porta-malas
Alavanca dianteira
Há pouco espaço para a manipulação da peça. Na versão do Fox exportada para a Europa, a distância entre a alavanca e o banco é maior
A pergunta que fica é: o que levou uma empresa como a Volkswagen a se meter numa enrascada desse tipo? A crise do Fox começou a se desenhar ainda na gestão do antecessor de Thomas Schmall, o também alemão Hans-Christian Maergner. Na época, o proprietário de um Fox, o químico Gustavo Funada, entrou em contato com a empresa relatando um acidente com o banco do carro, em que perdeu um dos dedos. Maegner foi o responsável pela decisão de não fazer um recall sob os argumentos de que o acidente era um problema isolado e que o carro não tinha defeitos -- as regras para o rebatimento constavam no manual. "Se nessa hora a empresa tivesse admitido o problema e feito um recall preventivo, os custos e danos teriam sido muito menores", afirma Antônio Gaspar de Oliveira, diretor técnico do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo. No entanto, no caso do Fox, admitir a falha significaria reconhecer limitações no projeto do carro, uma vez que a concepção do sistema de rebatimento é de responsabilidade da Volks -- ou seja, seria um golpe violentíssimo para a cultura da empresa, que preza acima de tudo a qualidade e a excelência em engenharia. "Se o problema acontecesse em uma peça fabricada por um fornecedor, o recall teria sido imediato", afirma um ex-executivo da companhia.

SEGUNDO APURAÇÃO DE EXAME, a possibilidade de realização de um recall pela Volks foi avaliada em uma série de reuniões que envolveram a cúpula da companhia no Brasil durante o ano de 2004. A posição das áreas de engenharia e jurídica, na época comandadas pelo vice-presidente Holger Westendorf e pelo diretor Ricardo Carvalho, respectivamente, prevaleceram. A área de engenharia ainda hoje não admite que o carro tem problemas. "Para um engenheiro acostumado a desenhar e fabricar carros, o Fox realmente não tem problema, o sistema funciona e o manual é claro a respeito da forma como operá-lo. O problema é que o consumidor comum não acha isso e é ele quem compra e usa o carro", diz o ex-executivo da VW. Já o departamento jurídico, em um primeiro momento, avaliou que poderia ganhar na Justiça todos os processos movidos pelos consumidores com base na tese de que o banco é seguro para quem segue as instruções da montadora. "Houve um erro de avaliação por parte da companhia. Ninguém imaginou que o caso tomasse proporções tão grandes", diz um consultor do mercado automotivo. Por mais de três anos o assunto permaneceu praticamente desconhecido. Durante todo esse tempo, a montadora manteve a posição de que o acidente de Funada foi um caso isolado.


Outro fator que contribuiu para fundamentar a decisão dos executivos da Volks foi a posição ambígua do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor quando ocorreram os primeiros acidentes. Há dois anos, o órgão recebeu uma denúncia formal contra a montadora e pediu esclarecimentos. Recebeu a resposta de que se tratava de um caso isolado de desatenção com relação às instruções do manual do veículo. "Investigamos o caso, não encontramos outras vítimas, mas deixamos o processo aberto", afirma Ricardo Morishita, diretor do departamento. Frente ao silêncio do órgão federal, a Volkswagem também deixou o assunto de lado. Quando o caso voltou à tona, no início deste ano, com a confirmação de novas vítimas, os representantes do governo voltaram a exigir esclarecimentos da montadora. A Volks acreditava que, com as medidas que já havia adotado, o problema estaria resolvido. "Desde o início do processo, em março, a empresa não se mostrou disposta a fazer um recall. Chegaram a propor apenas uma campanha publicitária para divulgar os riscos de acidente", conta o diretor executivo do Procon-SP, Roberto Pfeiffer. Outro tropeço da montadora, por exemplo, foi chegar à reunião com o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor e o Procon, em Brasília, na segunda semana de abril, sem um laudo técnico que provasse a eficácia do anel de borracha oferecido em seu recall informal.

O desgaste da imagem da Volks já é considerado inevitável por especialistas do setor. "A resistência em fazer o recall vai cobrar seu preço", diz Ivar Berntz, consultor automotivo da Deloitte. O Fox, que foi o terceiro carro mais vendido do país nos três primeiros meses de 2007, encerrou o primeiro trimestre deste ano na quinta posição. A empresa atribui a queda a arranjos realizados na linha de produção de sua fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, responsável por parte da montagem do Fox. Segundo a Volks, a produção do Fox foi reduzida para abrir espaço para o novo modelo do Gol, o campeão de vendas da empresa. Consultores da indústria automobilística, no entanto, já vêem nessa queda sinais de que a crise em torno dos acidentes pode ter influenciado as vendas. "Mas o impacto real do problema deverá ser sentido com mais intensidade nos próximos meses", afirma um consultor especializado. Projetado pela filial brasileira e exportado para a Europa, o Fox tem como grande diferencial o fato de ser um automóvel pequeno com amplo espaço interno -- e o sistema de ampliação do porta-malas pelo deslocamento do banco é um dos destaques nessa proposta. "Uma adaptação que anule a funcionalidade do banco do carro, mesmo que em favor da segurança, não é uma solução adequada", diz René Martinez, da Ernst & Young.

Com a crise já instalada, o atual presidente da montadora, Thomas Schmall, tem pouco a fazer. Se voltar atrás e reconhecer o erro, a montadora corre o risco de ser processada por crime de negligência pela Justiça Federal. Advogados ouvidos por EXAME dizem que, depois de negar problemas por mais de três anos, os executivos da Volkswagen correm o risco de prisão caso mudem de posição, por crime de omissão. A lei determina a convocação de um recall imediato a partir do momento em que a empresa toma conhecimento do problema. "Se o defeito é o mesmo desde 2004 e eles só assumem agora, há espaço para uma denúncia criminal", diz a advogada Daniela Ricci, especializada em defesa do consumidor. Isso explica a postura da montadora em insistir na explicação inicial, mesmo sabendo da existência de 22 vítimas, todas elas com processos judiciais abertos contra a montadora. Seja qual for o procedimento da Volkswagen a partir de agora, uma coisa fica clara: o recall que não foi feito vai custar muito mais do que se imaginava inicialmente.

De terceiro para quinto
O Fox caiu duas posições no ranking de carros mais vendidos do Brasil entre o primeiro trimestre de 2007 e o primeiro trimestre de 2008Primeiro trimestre 2007 (por mil unidades vendidas)1o Gol482o Palio453o Fox294o Uno24,5 5o Celta24Primeiro trimestre 20081o Gol672o Palio513o Celta354o Uno325o Fox30Fonte: Fenabrave

Os maiores recalls do mundo
As montadoras americanas lideram a lista de veículos recolhidos para reparos (por número de automóveis envolvidos)Cadillac Escalade EXTEmpresa envolvida: GMAno: 2004Número: 4 milhões de automóveisProblema: cabos de aço usados na suspensão traseira oxidavam e se partiamConseqüência: registro de 134 incidentesOutros modelos atingidos: Silverado, GMC Sierra e AvalancheTaurusEmpresa envolvida: FordAno: 2007Número: 3,6 milhões de automóveisProblema: o botão do dispositivo limitador de velocidade provocava superaquecimentoConseqüência: sem registro de acidentesOutros modelos atingidos: Explorer, F-150 e RangerSebringEmpresa envolvida: ChryslerAno: 2004Número: 2,7 milhões de automóveisProblema: defeito no câmbioConseqüência: a agilidade da montadora evitou problemas mais gravesOutros modelos atingidos: Dodge, Plymouth BreezeExplorerEmpresas envolvidas: Ford e FirestoneAno: 2000Número: 1,6 milhão de automóveisProblema: desprendimento da banda de rodagem do pneuConseqüência: o defeito nos pneus causou mais de 400 capotamentos e cerca de 200 mortes nos Estados UnidosExcursionEmpresa envolvida: FordAno: 2007Número: 1,2 milhão de automóveisProblema: defeito em um sensor pode provocar a parada inesperada do motorConseqüência: causou 14 acidentesOutros modelos atingidos: E-Series, F-450 SuperDuty e F-550 SuperDuty

sábado, 5 de abril de 2008

Chorou ou não chorou? Dois jornais e duas versões sobre uma missa de sétimo dia

Folha e Estado, principais jornais de SP, enviaram jornalistas à missa de sétimo dia da menina Isabella. Resultado:

1) A colunista da Folha disse que "Se alguém não tivesse me dito quem ela era, eu nunca teria adivinhado. ao longo de toda a cerimônia, Ana Carolina manteve aquele tipo de serenidade que só pessoas profundamente espiritualizadas conseguem demonstrar. Sem precisar do ombro de ninguém, ela rezou, cantou e sorriu para as amiguinhas da filha que a cercavam, como se dali a pouco Isabella fosse entrar pela porta e correr para abraçá-la". (integra aqui)

2) Já a equipe de reportagem do Estado afirmou que "Ana Carolina abaixou a cabeça e chorou copiosamente". (integra aqui).

Além de discutir se a mãe chorou ou não (para mim algo não muito relevante porque cada um reage de uma maneira à morte), o interessante é observar como dois jornais relataram o mesmo fato de forma tão divergente. E você?

terça-feira, 25 de março de 2008

Reportagem do Estado de SP acusa Record de "pagar" por entrevista

Entrevistas exclusivas devem ser pagas? Nos EUA e Reino Unido a prática é comum.


ed. 23/03/08

Cafetina vive momentos de glória no retorno ao Brasil

MARCELO AULER - Agencia Estado

VITÓRIA (ES) - Condenada pela Justiça americana por explorar a prostituição e por porte de drogas, Andréia Schwartz viveu seus momentos de glória no retorno ao Brasil, sábado passado. A viagem de Nova York a São Paulo, pela American Air Lines, foi na primeira classe, apesar da sua condição de deportada. O luxo, segundo ela, teve a ajuda inicial do "bispo Macedo", da Igreja Universal do Reino de Deus, dona da Rede Record. Em retribuição, foi para este canal de TV sua primeira entrevista, por telefone, do aeroporto de Guarulhos. "Alguns veículos estão me levando a sério, como a Record. O bispo Macedo pagou minha passagem na classe executiva para eu voltar dos Estados Unidos", admitiu nas conversas com jornalistas.

O "up grade" da classe executiva para a primeira classe - na qual viajou ao lado de Pelé, sem que este se desse conta de quem era a companheira de viagem - foi cortesia da companhia aérea. Não foi o único mimo prestado. Para preservá-la, o comandante insistiu diversas vezes ao microfone a proibição aos passageiros da classe comum de passearem pelas demais classes. Parecia um recado ao jornalista do The New York Post que tentava desesperadamente aproximar-se da brasileira.

Andréia embarcou em Nova York com o brasileiro Dival Ramiro. Ele se apresenta para muitos como jornalista free lancer, que vende matérias para o Daily News e para o The New York Times. Mas, usa também no bolso um cartão de visitas no qual aparece como diretor de uma fábrica de bebidas energéticas. Na casa da mãe da cafetina, na semana passada, a identidade dele era outra: policial. O que Ramiro tenta mesmo é intermediar as entrevistas de Andréia com órgãos de imprensa. Para que ela não falasse com os repórteres em Guarulhos, ele desviou sua saída pela sala de embarque e a conduziu a um shopping, onde ela cuidou dos cabelos e das unhas. Andréia admitiu, ontem, que irá contratar um assessor de imprensa. Ela pretende cobrar cachê pelas suas entrevistas a órgãos estrangeiros.

Os momentos de glória da brasileira culminaram com sua chegada ao Espírito Santo. Para evitar a "ameaça" dos jornalistas que desde cedo se postaram no aeroporto de Vitória, a Infraero providenciou que ela descesse do avião direto em um carro, no qual foi levada ao estacionamento externo do aeroporto, sem passar pelo terminal de passageiros. A assessoria de imprensa da Infraero em Vitória só não apontou os riscos que Andréia sofria já que apenas jornalistas a aguardavam às 22h30, quando o avião pousou.

Como manter o foco da entrevista no que lhe interessa divulgar

Foi difícil cavar a reportagem, mas o repórter não pergunta o que você quer divulgar. O que fazer?
Assista a esse vídeo com algumas dicas (em inglês).

Pérolas das assessorias de imprensa

O título do blog já explica para que veio. Aproveite!

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Folha abre espaço para Arnaldo Antunes criticar texto de colunista do jornal (Nelson Ascher)

Antunes considera texto de Ascher como "metáforas medonhas" e "piada de mal gosto". Impagável:


São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

RÉPLICA
Uma piada de mau gosto

Em resposta a texto do colunista Nelson Ascher, o músico Arnaldo Antunes destaca a urgência da questão ambiental

ARNALDO ANTUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA

É DE derrubar o queixo o artigo de Nelson Ascher de 4 de fevereiro, nesta Ilustrada, em que declara que "o lobby mais poderoso e articulado é, sem dúvida, o dos verdes ou ecologistas", que estaria impondo ao mundo inúmeras restrições, baseado em "males imaginários". Tendo em conta as enormes dificuldades para conseguir reduzir minimamente os efeitos de uma situação planetária que vem se revelando muito mais alarmante do que até então todos supúnhamos, tal afirmação do colunista parece uma piada de mau gosto. A urgência em se tratar da questão ambiental vem sendo comprovada por inúmeras pesquisas científicas e evidências incontestáveis, a despeito das já reportadas pressões que o governo americano vem exercendo sobre seus cientistas para atenuarem, retardarem, alterarem ou excluírem suas conclusões sobre o meio ambiente dos relatórios oficiais. Nelson Ascher repete aqui a ladainha do "não é bem assim", que vem sendo usada com freqüência pelos representantes dos interesses das indústrias poluentes para tapar o sol com a peneira e não alterar suas condutas em relação ao meio ambiente. Faz isso desde o título de seu texto ("Quente ou frio?"), pondo em dúvida, não só o aquecimento global, como também a responsabilidade humana sobre ele. É claro que medidas ecológicas implicam diretamente reduções drásticas nos lucros imediatos de determinados grupos empresariais, diante dos quais as reivindicações dos ambientalistas (como reduções nas emissões de CO2, tratamento adequado do lixo, descontaminação das águas, restrição ao desmatamento das florestas) ainda engatinham, contra muita resistência e pouca consciência.

Metáforas medonhas
Ao mesmo tempo, não é de espantar a postura de Nelson Ascher, para quem já vem acompanhando, em doses semanais, sua campanha a favor da desastrosa política externa da administração Bush e de seus métodos para combater o terrorismo internacional. Nos primeiros momentos da invasão norte-americana no Iraque, Ascher comemorou com entusiasmo a suposta vitória (com metáforas medonhas como as de bombas caindo como pizzas "delivery"), sem perceber o quanto não se tratava de um termo, e sim do início de um conflito armado que se estende até hoje, sem uma solução à vista. Dessa visada, seu artigo parece fazer sentido, pois serve bem ao que almeja a nova ordem americana (marcada pela intolerância nas relações exteriores, assim como pela recusa em aceitar as restrições internacionais para controle do aquecimento global), contra o que já chamou, em outros artigos, de "velha Europa". Ainda, para Nelson Ascher, os defensores do meio ambiente seriam responsáveis por uma série de "proibições" que, "poucas décadas atrás, teriam parecido ridículas": "baniram os bifes", "eliminaram os transgênicos", "proscreveram os vôos internacionais", "tornaram proibitivo o uso de automóveis", "plastificaram as genitálias alheias para limitar a produção de bebês", "criminalizaram a obesidade, o fumo etc.". Um mínimo de sensatez basta para duvidar da maioria dessas colocações. O culto à forma física e a proibição ao fumo têm origem mais ligada a questões de saúde pública e conservadorismo moral do que à defesa do meio ambiente. Por sua vez, o uso de preservativos -apesar de atualmente ter mais relação direta com a ameaça da Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis do que com causas ecológicas, como o controle de natalidade- apresenta uma alternativa libertária e necessária, contra a qual o puritanismo das forças neoconservadoras (as mesmas que tentam substituir Darwin por Adão e Eva no ensino primário) investe com a defesa das relações monogâmicas e do sexo apenas com fins de procriação. Quanto às outras restrições, parecem ilusórias ante a constatação da realidade cotidiana. As ofertas para consumo de carne aumentaram em quantidade e variedade nas últimas décadas, e não parece preciso lembrar aqui que parte da floresta amazônica vem sendo devastada para se tornar pasto. Os preços das passagens para vôos internacionais caíram consideravelmente. As facilidades de compra parcelada de automóveis também aumentaram, ao ponto de o número de veículos nas ruas levar a uma situação indomável, da qual nenhuma espécie de rodízio parece dar conta. Enfim, por mais que nos queira fazer crer no contrário o colunista, o fato é que venceu a cultura do excesso, do desperdício e da irresponsabilidade em relação a um futuro que não seja imediato. É por isso que, a cada dia mais, temos que conviver com insanidades como, para ficar em pequenos exemplos, guardanapos de papel embrulhados um a um em embalagens plásticas, canudos de plástico revestidos um a um em embalagens de papel, sachês de material plástico embalando pequenas porções de mostarda, ketchup, azeite, maionese etc., que, numa estúpida assepsia (que há poucas décadas, sim, pareceria ridícula), vêm, gota a gota, degradando o planeta.

Era Bush
E, é claro, esse estado de coisas combina bem com a conjunção de intransigências que marca a era Bush, apoiada principalmente pelos lobbies das indústrias petrolífera e armamentista, não só imensamente mais poderosas do que as que lutam pela preservação do meio ambiente, como também com interesses antagônicos a elas. Muito mais graves do que as "proibições" atribuídas por Ascher aos ecologistas são as restrições à liberdade individual levadas a cabo pelo governo americano em sua campanha antiterrorista -correspondências violadas, prisões sem mandados ou advogados, perseguições a pessoas que se oponham à guerra, cerceamento de manifestações de rua, restrições crescentes para concessões de vistos a imigrantes. Mas o que é mais inaceitável é a afirmação de que "a preocupação exacerbada com o clima e o meio ambiente, coisas cujo funcionamento se conhece pouco e mal, já resultaria em problemas imediatos, pois, para a parcela miserável da humanidade, dificulta cada vez mais a superação de seu estado", ante a evidência de que os mais desfavorecidos economicamente são também os que mais sofrem as conseqüências das contaminações tóxicas e dos desvios naturais decorrentes delas. Além disso, Ascher ignora os inúmeros projetos de inclusão social relacionados à coleta seletiva de lixo e reciclagem, por exemplo, entre outras iniciativas ecológicas. Quanto ao Protocolo de Kyoto (que os EUA não assinaram, apesar de serem os maiores contaminantes), cujas metas parecem hoje insuficientes diante dos mais recentes relatórios sobre a situação ambiental, o articulista afirma "sabermos que era praticamente inútil, que as nações mais vocalmente empenhadas em seu sucesso têm sido as que mais longe ficaram das metas propostas", como se uma lei devesse deixar de existir apenas pelo fato dela não estar sendo devidamente cumprida. Há pessoas que defendem esse estado de coisas dizendo: "poderia ser pior", como no caso da ordem mundial ser tomada pelo fundamentalismo islâmico, em que todos os considerados "infiéis" poderiam sofrer violência desmedida. Eu acho que deveríamos pensar: "poderia ser melhor", se os Estados Unidos e os países que os seguem assumissem seus compromissos com o controle de abusos ambientais; se houvesse maior liberdade de trânsito entre as fronteiras; se a intolerância desse lugar ao diálogo; se todos pensassem não só nos seus filhos e netos, mas também nos tataranetos dos seus tataranetos.

ARNALDO ANTUNES é poeta, compositor e cantor

Próximo Texto: Ascher atacou "Manias de Minoria"

Folha e Estado publicam textos iguais como se fossem reportagens

Ombudsman da Folha, 17/2/08



Na essência, os dois textos ao lado são iguais. Têm diferenças de tamanho e padronização. O da Folha foi veiculado no sábado 26 de janeiro. O de "O Estado de S. Paulo", quatro dias depois, na quarta.Como estava com sua edição concluída, a Ilustrada noticiou em Cotidiano a morte do violonista Antônio Rago.Em 1993, o ombudsman da Folha, Marcelo Leite, qualificou a "cópia ou apropriação de trabalho alheio" como o "pior delito intelectual".Consultei o "Estado" para saber o que houve. Sua Direção de Redação: "Embora textos noticiosos curtos tenham certa chance de se assemelhar, o caso em questão parece ser mesmo um típico "recorta e cola". Trata-se de episódio lamentável, que contraria os padrões éticos e de qualidade do "Estado". Estamos apurando as responsabilidades, para as devidas providências".A Folha já reproduziu como se fossem de jornalistas seus declarações e opiniões com origem em outras publicações -ou seja, plágio. Ombudsmans abordaram os casos.Uma hipótese sobre o aparecimento do texto no "Estado" seria uma certa liberalidade do jornalismo mundial em recolher informações, sem dar o crédito, na internet -meio que torna mais fácil copiar, mas também de identificar a cópia.Mas a apuração do "Estado" descobriu que pessoa próxima ao músico enviou por e-mail nota sobre a morte. Era o texto da Folha, o que não foi informado. Alguém o "colou" no jornal, prática que o "Estado", como a Folha, condena: publicar "press release" como se fosse da lavra da Redação.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A novela Nassif x Veja ganha mais um capítulo

Do site comunique-se:


Editora Abril entra na Justiça contra Luís Nassif

Carla Soares Martin

Depois de o diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara, e do colunista do Radar, Lauro Jardim, entrarem com ações indenizatórias contra o jornalista Luís Nassif, a Editora Abril decidiu também processar o dono da Agência Dinheiro Vivo por danos morais. Nassif escreve uma série argumentando as supostas intrincadas da revista com interesses comerciais, em seu blog.
Serão cinco ações, todas na Justiça de São Paulo: uma de Alcântara, com a data de entrada desta terça (12/02), duas de Jardim – a primeira com entrada nesta sexta (15/02) –, uma de Mario Sabino, redator-chefe da Veja, e a da Editora Abril, marcadas para a semana que vem. Todas elas são contra Luís Nassif e o portal iG, que hospeda o blog.
A Veja não vai se manifestar publicamente sobre as acusações que o jornalista tem apresentado.
Para Nassif, entrar na Justiça é uma estratégia para atrapalhar o andamento da série. “Nesta quinta, fiquei todo o dia indo atrás de advogados”, conta.
Por outro lado, a falta de uma resposta à altura da revista na própria publicação, segundo o jornalista, tem um motivo: “Falar sobre a série na Veja é como jogar um farol em cima dela.” Nassif explica que, se os jornalistas e colunistas da revista o atacam, mas não respondem as acusações, assinam um termo de culpa.
De acordo com o comentarista de Economia, é difícil aos jornalistas argumentarem contra a série, pois os capítulos estão todos fundamentados com artigos e reportagens da revista.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Folha de SP cede espaço nobre para Favre criticar Barbara Gancia

Saiu no dia 15/2, no Tendências e Debates:

PS: Barbara Gancia é colunista do próprio jornal

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1502200809.htm

Barbara Gancia quer me calar

LUIS FAVRE

Ela, que se serve do poder de fogo da grande mídia para tentar destruir reputações, não tolera ser contestada com a mesma arma que usa
BARBARA GANCIA quer me calar. Ela usa seu espaço neste jornal para me ameaçar de um processo e tentar colocar uma mordaça nos que recusam sua prepotência e seus insultos. Ela está descontrolada porque, em resposta a um artigo cheio de prepotência, arrogância e insultos, ousei escrever no meu blog, no artigo "Latem, Sancho, sinal que cavalgamos" (http://blogdofavre.ig.com.br) o que ela não quer ouvir e que vou repetir: "2007 foi o melhor ano da história do turismo no Brasil. Apesar de todos os problemas, particularmente o da valorização do real, mas também a quebra da Varig e os atrasos nos aeroportos, o fluxo do dinheiro em divisas deixado pelos turistas no Brasil bateu todos os recordes. Imagino como seria se alguns dos articulistas antipetistas, esses de "rabo preso" com o tucanato e alérgicos a operário metalúrgico presidente, fossem ministros do Turismo e falassem, aqui e lá fora, as sandices que aqui escrevem". Ela, que tanto esbraveja, não gostou do "rabo preso". Ela tampouco gostou de que eu acrescentasse: "Se ela ministra fosse (mas por enquanto esse risco o Brasil não corre), ela iria dizer nos foros internacionais o que ela e uma parte da mídia repetem incansavelmente, mas que, como mostram as pesquisas, o povo não compra. A saber: que o país vive um apagão aéreo, dobrado de um apagão elétrico. Que sofremos uma epidemia de febre amarela, mas que não adianta vir vacinado pois os turistas vão enfrentar taxas de homicídios de outro planeta. Que, salvo a cidade de São Paulo, cidade limpa, como todos sabem, onde a taxa de homicídios (particularmente nos Jardins, Pinheiros e a rua de Barbara Gancia) é a mesma de Paris, melhor se abster de circular no resto de nosso paraíso tropical." Ao contrário dessa torcida do contra, a ministra do Turismo calmamente explicou em Madri que não há epidemia de febre amarela e que somente as pessoas que forem para regiões de risco devem ser vacinadas. Disse também que os problemas encontrados com o tráfego aéreo estão em vias de solução, mas que não são piores que os enfrentados pelos aeroportos de Londres ou pelo JFK em Nova York. Afirmou também que, se é verdade que a violência existe, pelo menos no Brasil não há terrorismo, nem ameaças desse tipo, como ocorre na França, na Inglaterra e na Espanha, por exemplo. Que aqui não há terremotos nem tsunamis. Resumindo, defendeu o Brasil e mostrou que vale a pena visitá-lo e conhecê-lo. Nada diferente do que disse, por exemplo, o "Valor Econômico": "Os espanhóis têm procurado mais a costa brasileira por dois fatores: o primeiro deles, segundo fontes do setor, é a saturação do turismo no litoral sul da Espanha. Outro fator é que o atentado terrorista do 11 de Setembro nos Estados Unidos e o tsunami na Tailândia acabaram tornando a costa brasileira mais atrativa e segura para turistas estrangeiros, sobretudo o europeu". (1º/2/2008). Tampouco muito diferente do que, sobre a "epidemia"de febre amarela, afirmou o próprio ombudsman da Folha: "Acontece que desde 1942 não se conhece no Brasil transmissão de febre amarela em reduto urbano. A informação foi veiculada, mas o tom predominante, mostram os títulos da capa, foi o de escalada". (27/1/2008). Mas quando falta a razão, sobram os impropérios. A irritação e a contrariedade de alguns se entende, pois mesmo com suas penas servindo os que procuram desmoralizar o governo e promover o ódio e a rejeição de suas figuras mais populares, a avaliação majoritária da população é que o Brasil está no caminho certo. Por isso, Barbara Gancia quer me calar com um processo e assim cercear meu direito à liberdade de expressão e de opinião. Ela, que se serve do poder de fogo da grande mídia para tentar destruir reputações, colar etiquetas e adjetivos pejorativos contra uns, obsequiosos para outros, não tolera ser contestada com a mesma arma que ela invoca para realizar sua tarefa política: minha liberdade de opinião e de expressão. Solicitei à Folha de S.Paulo o direito de responder no mesmo espaço onde fui atacado e ameaçado, permitindo que o despropósito da jornalista seja respondido. A Folha aceitou meu pedido e está de parabéns.
LUIS FAVRE, 58, é publicitário especializado em marketing eleitoral. É casado com a ministra do Turismo, Marta Suplicy.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ainda Nassif... agora contra Rubens Valente (Folha)

Nassif (http://www.projetobr.com.br/web/blog/5#6357) acusa a reportagem de Rubens Valente (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0402200809.htm) à Rússia como recheio de tapioca. Poderia ter escrito sobre o interesse russo na venda de submarinos para o Brasil, mas usou o espaço do jornal para comentar que a viagem foi paga pelo governo, que foi ao balé, museu, quanto custou a diária etc. Dê seu comentário.

Luis Nassif x Revista Veja

Para quem gostou da série imprensa X imprensa, uma ótima leitura:
http://www.projetobr.com.br/web/blog/5#6342